No entanto, a secretaria diz também que 12 casos eram de bebês prematuros que chegaram mortos à maternidade e que os médicos apenas poderiam fazer o procedimento de retirada dos fetos.
Algumas mães que perderam os filhos na hora parto denunciam que houve descaso no atendimento. A Iara da Silva conta que teve o bebê em uma enfermaria, ao lado de outras pacientes, e que foi um enfermeiro quem conduziu o parto, sem sequer encostar nela.
“Só olhando. Ele entrava na sala e ele saía. Quando ele entrava, ele dizia… ‘basta fazer força’. E eu fiz o máximo que pude. Quando ele [bebê] nasceu, já não chorou. Tava respirando fraquinho”
Iara da Silva diz que não teve nenhum suporte durante o parto no Hospital Municipal de Barra do Corda — Foto: Reprodução/TV Mirante
Cidinara Oliveira diz que fez todo o pré-natal e o bebê estava saudável. Porém, no dia do parto, o médico teria mandado ela voltar para casa por falta de material para a cirurgia.
“O médico disse que não podia fazer meu parto porque não tinha como fazer, porque não tinha material. Ele não ia fazer a cesariana em mim”
Cidinara ainda esperou por cinco horas no hospital, mas quando decidiram fazer a cesariana, já era tarde.
“Eu quero Justiça, eu quero saber porque meu filho morreu. O pediatra disse que o bebê morreu em decorrência do parto”, contou a mãe.
Cidinara diz que perdeu o bebê porque o hospital demorou para fazer um parto do tipo cesariana. — Foto: Reprodução/TV Mirante
A Secretaria de Saúde de Barra do Corda também informou que o próprio hospital está apurando três mortes em que há indícios de negligência, sendo que não teria culpa nos outros casos. Para a secretaria, a maior parte dos outros casos, os prematuros, são de pais indígenas que não tiveram o acompanhamento adequado.
“É uma população que não faz acompanhamento de pré-natal e isso dificulta ainda mais a sobrevivência desse feto”, declarou Eloísa Mota, secretária municipal de saúde.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão (OAB-MA) está acompanhando o caso e diz que todas as mortes têm que ser investigadas e que deve acionar o Ministério Público Federal para pedir atenção no casos dos bebês indígenas.
“Nós vamos buscar, junto ao Departamento de Saúde Pública Indígena da FUNAI, e requisitar que o Ministério Público Federal faça uma apuração, caso se confirme os casos dessas crianças indígenas”, contou Rafael Silva, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA.
Até o momento, o Ministério Público do Maranhão abriu inquérito para investigar dois casos que chegaram ao promotor.
“Ainda não posso informar de forma conclusiva, mas há evidências de que poderia ter sido evitado, se tivesse tido um atendimento mais rápido”, afirmou o promotor Guaracy Figueiredo.
Já na Câmara Municipal de Barra do Corda, em uma sessão tumultuada nessa semana, um grupo de vereadores de Barra do Corda pediu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as mortes, mas nada foi decidido até o momento.
“Tem sido muito grave o que tem acontecido em Barra de Corda. Vem desde outubro que as crianças vem morrendo por falta de atendimento. A gente vem falando, cobrando e ninguém faz nada”, contou o vereador Francisco Eteldo (PV).
Fonte G1 Ma.