Eu, como muitos outros esperantinopenses que não a conhecem ou até mesmo não lembram de Regilane Maceno, resolvi buscar mais informações, e que se segue:
QUEM É A ESPERANTINOPENSE QUE PARTICIPA DE LIVRO EM QUE SERÁ LANÇADO NA SUÍÇA E PORTUGAL?
“Me chamo Regilane Barbosa Maceno, nasci em 20 de dezembro de 1983 no povoado Centrão, zona rural de Esperantinópolis-MA. Sou a número 5 dos 11 filhos do casal Francisco e Antonia, a 3ª das filhas. Uma família numerosa, sobrevivente da lavoura de substância e da graça divina. Em nossa casa, todos tínhamos, desde cedo, responsabilidade pela lavoura, nos serviços mais “de criança” tais como ‘capinar’, ‘encoivarar’, etc.
No povoado existia uma ‘escola’ que minha mãe, apesar de ter concluído somente a 8ª série do primeiro grau, era diretora e professora. Lembro vagamente desse momento, apenas das palmatórias e de que a “escola” era a melhor maneira de fugir da roça, das ladeiras altíssimas que subíamos, muitas vezes molhando-nos com o orvalho gelado, sobretudo na época da ‘panha de arroz’ dos meses de maio a julho.
As luzes das palavras foram acesas a mim somente aos 10 anos, quando decidi ir embora do Centrão e morar numa casa, como doméstica, em Esperantinópolis-MA. Aprendi a ler e a ‘tirar contas’ com a vizinha da minha madrinha, pois quando cheguei à cidade, em agosto de 1994, já não havia mais vagas nas escolas para que pudessem me matricular.
Mesmo com receio de que eu não acompanhasse os conteúdos nem a turma, fui matriculada na 1ª série, uma vez que minha idade não era mais compatível com os demais alunos da turma de alfabetização. Mas minha sede de conhecer o mundo encantador das palavras e, principalmente, de não repetir as histórias das mulheres de minha vida (mãe, avó, tias), surpreendi meus professores, concluindo essa etapa do ensino de forma exitosa e superando todos os meus obstáculos, inclusive os choros noturnos de saudade da minha casa, dos meus irmãos... sem poder mostrar fraqueza.
Para acelerar e modificar meu quadro de distorção idade/série, fui matriculada na modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA, fazendo os 04 anos ensino em apenas em 02 (5ª/6ª e 7ª/8ª). Sem sobressaltos, conclui essa fase novamente acima das expectativas, aos 17 anos.
Passados 07 anos da minha chegada à Esperantinópolis-MA, decidi que era hora de uma mudança em minha vida... Nesse tempo todo em que estive lá, eu não sabia o que queria ser ou fazer da minha vida, mas sabia perfeitamente o que eu não queria: voltar para a lavoura, ser como minha mãe, com tantos filhos, guiada pela necessidade...de tudo, do básico.
Decidida a ter uma história diferente das histórias das minhas mulheres, exemplos que levo para a vida, cheguei à Teresina-PI, em janeiro de 2000, onde concluí o Ensino Médio Regular, no turno da noite. Trabalhava como doméstica durante o dia e a noite ia para a Escola Estadual Monsenhor Cícero Portela. Mesmo com duas greves dos professores durante os 03 anos de Ensino Médio, consegui a aprovação no vestibular da Universidade Federal do Piauí-UFPI, uma das mais respeitadas do Nordeste, na primeira vez que concorri para Licenciatura Plena em Letras- Português/Francês.
Novamente a força da desigualdade social me mandava ficar na cozinha e as muralhas financeiras foram levantadas contra mim. Ganhando um salário de 100,00 por mês e sem poder contar com o auxílio de mais ninguém, o dinheiro não dava para as despesas com o transporte, eu completava a renda lavando as roupas das vizinhas. Como eu também morava no trabalho e não tinha como cursar as disciplinas de francês, pois eram ofertadas somente no turno matutino, fui obrigada a desistir e retirar a Língua Francesa do meu curso, por meio de um processo na universidade.
Muitas foram as dificuldades que encontrei ao longo da vida, mas muitos ‘anjos tortos’ não me deixaram desistir, me puxaram do abismo do fracasso que me sugava, como buraco negro que nada deixa escapar...Meu professor querido, Profº Dr. João Benvindo de Moura, com palavras de incentivo, exemplo de vida e ações efetivas, me incluindo nas fiscalizações de tudo que aparecia na UFPI para que eu pudesse ganhar algum dinheiro; meus colegas que emprestavam e/ou davam suas cópias dos textos para que eu pudesse fazer as leituras...Muitos anjos a quem sou infinitamente grata! Concluí o curso dentro das exigências da universidade e me formei em agosto de 2007. A primeira da minha família, materna e paterna, a ter um curso superior.
Felizmente, depois de um ano na UFPI, consegui logo trabalho na área, ganhava pouco, mas com a bolsa trabalho que a universidade me concedia era suficiente para pagar aluguel e deixar o trabalho de doméstica.
Em 2009 comecei a Especialização em Estudos Literários na Universidade Estadual do Piauí-UESPI, mas eu ainda não tinha como pagar por ela. Na época, a mensalidade custava 185, 00, e eu não tinha. Entretanto, eu precisava, até mesmo para ter mais chances de aprovação nos concursos que eu estava fazendo...Fiz o curso! Foram 12 meses em que a vergonha de não ter como pagar a universidade ficava amarrada em casa...assisti todas as aulas, concluí todas as disciplinas, defendi a monografia. Somente um ano depois, com a ajuda incomensurável do meu ‘anjo torto’, João Benvindo de Moura e do ENEM, consegui honrar o compromisso com a UESPI e receber o diploma.
Em 2011 veio o Concurso Público para Professor de Codó-MA e, por ter o diploma, consegui uma melhor classificação, sendo aprovada. Hoje sou professora efetiva do município e desenvolvo meu trabalho como se cada um dos meus alunos fossem uma extensão da minha vontade de vencer, quando eu tinha a idade deles.
Com uma renda estável, tive toda a tranquilidade para buscar o Mestrado em Letras. E ele veio em 2013, com minha aprovação no processo seletivo ofertado pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI, concluindo-o em 2015 de acordo com as disposições da universidade. Durante o curso, me dei todas as oportunidades que não tive outrora. Adquiri todos os livros que precisei, fui à congressos, publiquei artigos, andei de avião pela primeira vez...aproveitei cada momento em que fui ‘paga’ para estudar.
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Participação na 13ª Feira Literária de São Luís
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Retornando às minhas funções em Codó, desenvolvi meu trabalho com mais compromisso ainda e o resultado dele foi ter sido semifinalista na Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa, com meu aluno Lucas. Juntos, viajamos para Porto Alegre-RS, representado o Maranhão e Codó. Lá, minha alegria foi ainda maior quando fiquei em 1º lugar, entre os 125 professores da categoria, com o texto “Ourives Olímpicos”, representado o Nordeste no Relato de Experiência. Por conta da visibilidade que esse trabalho teve a nível nacional, estadual e local, fui convidada para assumir a função de Coordenadora da Área de Linguagem na Secretaria Municipal de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação-SEMECTI, cargo que ocupo até o momento.
À frente da coordenação, muitos projetos foram feitos idealizados e realizados em parceria com os colegas. Entre todos, o que mais me orgulha e encanta é o projeto da Feira Literária de Codó- FLIC, transformada em Lei Municipal no ano de 2018 e, que em 2020 será sua 4ª edição. Além da Revista Pedagógica Cocais do Saber, que já está na sua 3ª edição e já possui o ISNN, que dá cientificidade aos trabalhos publicados nela.
Atualmente, sou aluna do Curso de Doutorado em Literatura da Universidade de Brasília-UNB, uma das melhores universidades públicas da América Latina. Nessa fase, continuo pioneira para minha família e para todos os que ainda vivem no Centrão, em Codó (creio que em Esperantinópolis).
Continuo perseguindo os caminhos da leitura, da literatura e da pesquisa, resultando, as publicações já realizadas no Brasil e fora do país, tais como:
Artigos de Crítica Literária publicados em periódicos: “O mundo e o mundo das palavras: análise sociológica do conto “Famigerado”, de João Guimarães Rosa” (Revista Parfor-UFPI); “Trançando lembrança, tecendo identidades em Antes de nascer o mundo, de Mia Couto” (Revista Ininga-UFPI); “Rasuras subalternas: a representação feminina em Antes de nascer o mundo, de Mia Couto” (UESPI); “Do romance à sétima arte: análise intersemiótica do romance Terra sonâmbula, de Mia Couto”(UFRN); “Reflexo espelhado, retrato guardado: análise sociológica de Um manicaca, de Abdias Neves” (Revista Ininga-UFPI); “Memórias do trauma e as relações de gênero em Ha vinte anos, luz, de Elsa Osorio”(Revista Cerrados-UnB);
Obras artísticas literárias: “Ourives olímpicos” (2016); “Badu e a goiabinha” (2018); coletânea “As cartas que não escrevi” (2019); “A linda Flor do lácio” (2019).
SOBRE OS LIVROS
O livro infantojuvenil “Badu e a goiabinha” foi trabalhado na 2ª Feira Literária de Peritoró-MA, pela a Escola Municipal Mãe Dona, uma emocionante homenagem que recebi daquela cidade.
Personagens do livro “Badu e a goiabinha” e Parte da equipe da Escola Municipal Mãe Dona
A coletânea “As cartas que não escrevi” (2019) foi publicada em maio de 2019 no 33º Salão do Livro e da Imprensa de Genebra-Suiça e, em julho de 2019, na 18ª Festa Literária Internacional de Paraty-RJ/Brasil.
Festa Literária Internacional de Paraty
Para 2020:
Dois artigos científicos de Crítica Literária foram aceitos e serão publicados em periódicos nacionais, ainda no primeiro semestre: “O patriarcalismo em ‘A mulher no espelho’, de Helena Parente” e “Ecos ocos de um albatroz: o negro em O batizado e ‘Gritaram-me negra”
Um capítulo do livro “ENTRE O PLANO E A PALAVRA: REFLEXÕES SOBRE CINEMA, LITERATURA E OUTRAS ARTES” (previsto para maio)
A Coletânea “Faz de Conto IV”, na qual tenho o conto “Aurora”, será lançado no dia 12 de março, em Fortaleza-CE, em maio em Genebra-Suíça e, em junho, durante 90ª Feira do Livro de Lisboa-Portugal.
Recebi hoje (22 de janeiro) a confirmação de que tive um trabalho aprovado no Congresso Internacional em Lisboa-Portugal. O congresso vai acontecer nos dias 01, 02, 03 de abril de 2020. O título do trabalho é: "Eça de Queiroz é Saramago: interditos nas imagens censuradas é abertas nos textos literofilmicos", será apresentado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em Lisboa Portugal.
Tenho convicção de que devo continuar, agora com bem menos obstáculos como os que encontrei nessa jornada nem sempre fácil, nem sempre doce, mas com certeza a mais prazerosa e certa para alguém cuja biografia se confunda com a minha...”
Com essa bela história de superação, como que um conto de fadas, com um "final feliz" que é só um começo de tantas Regilanes (que não conhecemos, mas que existem) no Brasil, desejo a ela que voe o mais alto que puder, e que as portas se abram! Felicidades nobre amiga!